terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O amor faz reféns

Estiveste alguma vez apaixonado? É horrível, não é? Fica-se tão vulnerável? Ficas com o peito e o coração abertos e outra pessoa pode entrar dentro de ti e revolver-te por dentro. Constróis todas essas defesas, constróis uma armadura que te core de alto a baixo para que ninguém te possa ferir, e depois uma pessoa estúpida, igual a qualquer outra pessoa estúpida, atravessa-se na tua estúpida vida... Dás-lhes um bocado de ti. Não to pediram. Fizeram um dia uma estupidez qualquer, como beijar-te ou sorrir-te, e a tua vida deixou daí em diante de ser tua. O amor faz reféns. Entra dentro de ti. Come-te e deixa-te a chorar no escuro, e é assim que uma simples frase do tipo "talvez devêssemos ser só amigos" se transforma num estilhaço de vidro que te vai direito ao coração. Dói. Não é só na imaginação. Não é só mental. É uma dor da alma, uma dor real que te invade e te rasga e te parte. Odeio o amor.
N.G.

1 comentário:

Lakshimi disse...

Quando se deixa cair um copo ou um prato ao chão provoca-se um estrondo de estilhaços. Quando o vidro de uma janela se quebra, a perna de uma mesa se parte, ou quando um quadro cai da parede faz barulho. Mas quando o nosso coração se parte, isso acontece no mais absoluto silencio. Podem pensar que, como é uma coisa muito importante, talvez pudesse provocar o barulho mais sonoro jamais ouvido, ou então até devia fazer um ruído qualquer cerimonioso, como o gongo de um címbalo ou o toque de uma campainha. Mas é silencioso e vocês quase desejam que houvesse um barulho qualquer que vos distraísse da dor que sentem.

Se há um barulho, ele é interno.Grita e ninguém consegue ouvi-lo excepto vocês. Grita tão alto que os vossos ouvidos retinem e a cabeça vos dói. Fustiga-vos violentamente o peito como um grande tubarão branco apanhado no mar; ruge como uma mãe ursa cuja cria lhe tivesse sido tirada. É isso que parece e é assim que soa, uma grande fera que se debate em pânico por se sentir presa, bramindo como um prisioneiro que quer gritar o que sente. Mas o amor é assim; uma ferida aberta na carne exposta Á água salgada do mar, mas quando se quebra mesmo, fá-lo em silêncio. Vocês só gritam para dentro e ninguém consegue ouvir-vos.

Cecilia Ahern, If you could see me now