domingo, 28 de setembro de 2008

Triângulo


O meu amor tem lábios de silêncio 
E mãos de bailarina 
E voa como o vento 
E abraça-me onde a solidão termina. 

O meu amor tem trinta mil cavalos 
A galopar no peito 
E um sorriso só dela 
Que nasce quando a seu lado eu me deito. 

O meu amor ensinou-me a chegar 
Sedento de ternura 
Separou as minhas feridas 
E pôs-me a salvo para além da loucura.

O meu amor ensinou-me a partir 
Nalguma noite triste 
Mas antes, ensinou-me 
A não esquecer que o meu amor existe.

J.P.

sábado, 6 de setembro de 2008

Nós dissemos...

Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos
segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os
dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo.
recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da
porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que
nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro
por descobrir"
Eu disse "..."Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às
vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num
murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon.
escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo.
depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para
uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as
suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu
continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma
conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada".

A.L.C.