quinta-feira, 6 de maio de 2010

Na banheira



Lavar os dentes até à inconsciência,
Até sangrar, até deixar de arder a saliva.
Cortar, cortar, sair,
Expurgar da boca o sabor do sal
Num acto animal,
Deixar de te ouvir.
Não respirar,
Coçar, coçar, esfregar, gemer
Até a pele derreter e queimada cair.
Ficar, ficar, morder, ruir.
Lavada, limpa, em sangue, em ferida,
A carne viva,
A boca seca de gritar,
De lutar.
O cabelo, o cheiro das cinzas,
A chama apagada, as mãos fechadas.
A dor, a dor e o terror
De carcomer, de vingar, de sofrer,
Esquecer-me de mim.