quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Última Rosa de Verão



Tudo o que eu sempre quis,
Aqui dentro de mim, 
Assim sem mais nem menos, 
Aqui tão perto. 

Antes de ti, 
Eu lavava a cara com a tua luz prateada 
Cheia de calor fulgente, 
E suspirava, 
Por um dia ser tua. 

Não queria mais ninguém, 
Preferia entregar-me à solidão eterna. 

De cada vez que estava contigo, 
As palavras brotavam como flores de lótus no principio do universo, 
Mas o medo apoderou-se de mim. 
O medo de nada existir, para além da minha vontade tímida. 
E fiquei à tua mercê, num mar sem vento, onde nada se movia. 

Então vagueámos pelas ruas, 
Dançando sofregamente, 
Sonhando separados,
Temendo a desilusão. 

Até asfixiarmos com a ideia de não saltarmos para o abismo, 
Porque só o abismo parecia melhor, mais doce, 
Do que o chão indeciso que pisávamos lado a lado. 

Saltámos para o abismo um do outro. 

E agora vejo-te longe, e ainda nem acredito que és meu, que te pertenço. 
Tremo ao pensar em nós, por ser tão forte e tão verdadeiro. 
E tenho medo de te perder entre os meus dedos apáticos, 
De não te agarrar para sempre, 
Porque foste para mim a última esperança, a última urgência de acreditar no amor. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Parte da Perfeição

No espelho te olhas sorridente
Esperando alcançar esse abraço quente
Mas nem tudo permanece
Esperando por ti.

Vais gastando os teus dedos
Aqui e ali nas manhãs cinzentas
És negro breu que se deita
Quieto, calado
Sem querer
No meu peito gelado.

Não se esquecem de mim os dias
Essa chama acesa que brilha no quarto fechado
Mas eu não me esqueço de ti
Do fogo em que ardes cá dentro.

E nem respiras, tocando-me, sem medo
Eu não quebro
Ficando o silêncio oportuno para se criar o segredo
Entre nós.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Crimson

Não me és nada,
Não me és vento,
Nem fogo,
Nem água que sufoca
Quando mergulho em ti.

Não me és vida,
És apenas sobrevivência
Muda, surda, entristecida
Deixada sozinha no meio da rua
Fria, desajeitada, isolada
Esquecida.

Não me és conforto,
Apenas conformação
Seca, insípida, vil
Que me gasta, afasta
De ser feliz.

Sinto à noite,
Quando partes para as tuas ruas de paixão e velocidade,
Que partiste de vez
Que aquele que eras já não está aqui
Que está outro alguém
Outro alguém que tento entender
Mas que não toco, não atinjo
Não reconheço,
Nos traços, nas palavras, nos beijos.

Sinto à noite o meu corpo arder,
Ficar incandescente,
Como brasa acesa,
A queimar os lençóis,
E tento suportar esta febre,
Esta alucinação
De te perder todos os dias,
Vezes e vezes sem conta,
E não mais te encontrar
Em lado algum,
Nem em ti.



domingo, 20 de janeiro de 2013

Au Milieu Du Silence

Na casa nua de gente
A luz branca inunda os defeitos
Mostra-os em carne crua
Sem outro intento
Deixa-nos rodeados de solidão
E caminhamos lentamente entre os móveis
Inexistentes, Invisíveis
Sem exatidão
Traçando percursos que nada dizem.

Descalça percorri o jardim despido e húmido
Até à parede onde dei por mim sedenta
E num arco velho desenhei
Água azul e límpida
Mas não chegou para saciar
A melancolia que vive em mim.

Tenho caminhos desenrolados a meus pés
E não há amor aqui
Não há utopias inocentes
Está tudo em ruínas
E chove incessantemente.

Quem me dera que o tempo não fosse cruel
Que o teu coração ouvisse o bater do meu
Que as tuas pernas se enrolassem nas minhas
E sem me quereres perder
Me abraçasses num beijo interminável, incorruptível, infinito. 


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Tétis

Se ao vento me deito
E no nevoeiro quente do chuveiro me perco de ti
Entre pensamentos estranhos, insanos rebeldes
É porque o desejo se acumula fundo.

Não há palavras que nos tragam de volta à margem
E a tempestade já passou há tanto tempo.
Como ninfa agarro o teu dorso querendo afundar-te comigo num mar profundo de amor,
Mas tens medo, e eu sinto que já não me pertences, nem o meu canto sereno te encanta mais,
Nem com meus olhos  te faço acreditar.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Onde Chegar

Dei por mim numa manhã injusta,como aquelas que vivemos durante tanto tempo, em que enroládos acordávamos, assombrados pelo tocar do despertador, dizendo que te tinhas de ir.

Demoravas-te nos meus braços, fingindo não ouvir o chegar da despedida. 

Sonolentos, caminhando errantes para a luz do dia, abraçávamo-nos apaixonados, e iamos trocando beijos até ao portão.

Não querias ir, e eu não queria que fosses. Queriamos repetir tudo.

A chegada timida, o matar a saudade dos corpos, as linguas a viajarem uma narante horas, até adormecermos.

Quem nos dera, naquela altura, nunca mais acordar, ficarmos intactos, colados um no outro, por gotas de suor.

Agora, quem nos dera recuar, ou acordar do pesadelo que criámos em nome do amor.

Hoje, dei por mim numa manhã ainda mais injusta, fria, enevoada, solitária, à espera que o sol nascesse, mas ele tardou, e o crepúsculo ia-me deixando cega, perdendo toda a esperança, de te ver chegar, para me acordares deste sono profundo, desta dormência em que crescemos.

Queria que me levasses contigo, para parte incerta, onde a vida não seja mais que uma ilusão.