segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011


Não alimentas a fogueira
Não atiras para o céu o teu fulgor
Então, como posso eu caminhar todos os dias
Levantar-me e ser o que não quero ser?
Não estou com força,
Outra vez,
Nunca há ninguém que me carregue.
E o implacável mundo subjectivo
Não chega,
Não serve.
Tu servias, se me beijasses todos os dias
Com um único beijo
Com uma única palavra.
Mas queres dançar sozinho
A dança que eu pensava
Quereres dançar comigo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

No Man's Land

Caminhei assombrosamente sobre as brasas
Queimando a minha alma
Queimando os meus lábios
As minhas mãos ao rastejar
Lentamente
Até atingir a noite densa e quente.
As minhas ancas ao sabor do vento
Os meus cabelos desalinhados
De solidão.
Dancei na rua vazia
Ao som dos clamores ébrios
Sobre o ritmo insípido do meu coração.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Enquanto dizes Não.



De olhos fechados
Senti-a a tua língua roçar o meu pescoço,
A tua boca junto ao meu ouvido
Soltando as palavras que chamámos nossas
Em bafos lentos
Que me faziam gelar o corpo,
Desde a nuca até ao clitóris.

De olhos abertos fitava o céu
E deixava entre as minhas pernas
Rolarem os teus dedos,
Molhando-me de desejo,
De vontade
Que entrasses no meu corpo
E me fizesses tua.

De olhos fechados
Perdida no negrume,
Soltei sem querer um gemido
Quase parecido com o teu nome.
E a tua outra mão jogou-me forte
Contra o teu peito suado.

Embatemos um contra o outro
Cheia de fúria de me teres acordado
Sedenta por teus beijos envenenados
Ergui o meu corpo nu,
Agarrei-te e prendi-te com as minhas pernas.

Brinquei contigo,
Lambi-te,
Ri-me dos teus ruídos,
Fiz-te louco, para depois me render
E olhar-te nos olhos,
Enquanto te fazia entrar em mim,
Lenta e deliciosamente
Nervo a nervo.

De olhos fechados,
Deixei que o teu calor me percorresse,
Deixei que me segurasses as ancas frias
Com as tuas mãos quentes e molhadas,
Juntei os meus seios ao teu peito
E fiz-te meu,
Na minha dança egoísta
De te querer sentir
À minha maneira.

A tua voz ecoava na minha mente
O teu corpo respirava o meu
E o meu desfazia-se em água
E o teu em licor
Adocicado,
Na saliva e no esperma.
Davas-me o gemido
Davas-me as lágrimas de prazer
Davas-me a morte
Davas-me o teu ser.

De olhos abertos
Olhava o teu perfil belo
Em contra-luz
Recuperando o fôlego.

De olhos fechados, sentia-te depois
Bem junto a mim,
Fundindo o teu corpo no meu,
Para cairmos no silêncio da noite
E dormirmos ao relento.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cé Rosé



Promete me o mundo
Promete me a terra ideal
Onde os dias são como queremos
Em que comandaremos
A chuva e o sol e o vento.

Promete-me que a verdade
Restará sempre nos teus olhos
Que a idade e a melancolia
De sermos como somos
Não te vai afastar de mim.

Promete-me que a tua voz
E o teu corpo
Ficarão para sempre robustos
E intactos através do tempo.

Promete-me que a tua alma
Falará sempre à minha,
Nas manhãs cinzentas
Nas cordas da guitarra.

Promete-me que me verás sempre
Da mesma forma:
Como se fosse a primeira vez.

para J. Silva.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Azul Limão

Viajávamos naquele mar sem sal,
Sem brisa,
Olhávamos para aqueles seres sedentos,
Que pareciam nadar sem problemas,
Uns nos outros,
Como que em câmara lenta.

O ano tinha mudado, e também as marés.

Eu agora dava-lhe a mão e ele olhava-os perplexo, incrédulo.
Estavam cegos e surdos,
Nem o bater da água os acordava daquele ciclo sem fim.
Nós permanecíamos parados,
De pé,
Olhando para aquele aquário.

Eles não nos viam,
Falávamos e não nos ouviam,
Viviam ali e gostavam daquela dança,
Do bater de corpos gelatinosos e fúteis.

Aquele mar era ácido como o sumo de um limão.

Pegámos nos nossos dois corpos
E nas nossas memórias incandescentes
E de mãos dadas subimos as dunas e passámos o deserto
Longo de solidões.

O sol pôs-se na linha breve onde os seus lábios se juntam nos meus, e encontrámos longe da multidão
O mar gemente que nasceu em nós.




sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sangue do meu sangue

É bom olhar o teu reflexo
E saber que estás mesmo ali
Que existes e que te posso tocar.

É bom olhar-te feliz
Sentir-te perto quente fraterno
Amar-te enfim.

Para G. Mira.