domingo, 20 de janeiro de 2013

Au Milieu Du Silence

Na casa nua de gente
A luz branca inunda os defeitos
Mostra-os em carne crua
Sem outro intento
Deixa-nos rodeados de solidão
E caminhamos lentamente entre os móveis
Inexistentes, Invisíveis
Sem exatidão
Traçando percursos que nada dizem.

Descalça percorri o jardim despido e húmido
Até à parede onde dei por mim sedenta
E num arco velho desenhei
Água azul e límpida
Mas não chegou para saciar
A melancolia que vive em mim.

Tenho caminhos desenrolados a meus pés
E não há amor aqui
Não há utopias inocentes
Está tudo em ruínas
E chove incessantemente.

Quem me dera que o tempo não fosse cruel
Que o teu coração ouvisse o bater do meu
Que as tuas pernas se enrolassem nas minhas
E sem me quereres perder
Me abraçasses num beijo interminável, incorruptível, infinito. 


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Tétis

Se ao vento me deito
E no nevoeiro quente do chuveiro me perco de ti
Entre pensamentos estranhos, insanos rebeldes
É porque o desejo se acumula fundo.

Não há palavras que nos tragam de volta à margem
E a tempestade já passou há tanto tempo.
Como ninfa agarro o teu dorso querendo afundar-te comigo num mar profundo de amor,
Mas tens medo, e eu sinto que já não me pertences, nem o meu canto sereno te encanta mais,
Nem com meus olhos  te faço acreditar.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Onde Chegar

Dei por mim numa manhã injusta,como aquelas que vivemos durante tanto tempo, em que enroládos acordávamos, assombrados pelo tocar do despertador, dizendo que te tinhas de ir.

Demoravas-te nos meus braços, fingindo não ouvir o chegar da despedida. 

Sonolentos, caminhando errantes para a luz do dia, abraçávamo-nos apaixonados, e iamos trocando beijos até ao portão.

Não querias ir, e eu não queria que fosses. Queriamos repetir tudo.

A chegada timida, o matar a saudade dos corpos, as linguas a viajarem uma narante horas, até adormecermos.

Quem nos dera, naquela altura, nunca mais acordar, ficarmos intactos, colados um no outro, por gotas de suor.

Agora, quem nos dera recuar, ou acordar do pesadelo que criámos em nome do amor.

Hoje, dei por mim numa manhã ainda mais injusta, fria, enevoada, solitária, à espera que o sol nascesse, mas ele tardou, e o crepúsculo ia-me deixando cega, perdendo toda a esperança, de te ver chegar, para me acordares deste sono profundo, desta dormência em que crescemos.

Queria que me levasses contigo, para parte incerta, onde a vida não seja mais que uma ilusão.