quinta-feira, 30 de setembro de 2010

He said to me:





Shut the door, shut the door because I'm staying here. 
The world might disappear under blankets of snow.
  "Anne!" 
There's a wonderful word that you will liken it to but it's caught in the back of your mind though.  
Okay, and some will say "to you will go the world" 
Shut the door because I disagree. 
And Memnon sighs relief. 
Some circles you can't leave.
TNP

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Je vois la vie en rouge.

“Saga, que saga

Quem paga as minhas dívidas?”

Pensava ele ouvindo Edith,

Cagando na sanita,

Riscando o jornal com os olhos.


A torneira da banheira deixava um rasto

De calcário amarelo na loiça branca.


Cheirava a podre,

Estava calor

E o suor da casa escorria pelas paredes de papel forradas.


Mais afastado deste quadro, num canto da cozinha suja

Passeava uma barata grande e gorda,

Dando um toque de beleza natural

Aquele quadro tão impecavelmente decadente.


“Edith, salva-me.” – Dizia ele para o espelho,

Preparando-se para fazer a barba.


À volta dos olhos as rugas,

As ramelas,

No canto da boca rude, um resto de saliva seca da noite.


“Aqui não cheira a rosas.” - Pensou.

E enquanto Edith cantava,

Facilmente com o fio da navalha

Se libertou um jacto fino de sangue.


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Coco Prado

De manhã, sentas-te por breves momentos à mesa, na cozinha. Entornas o leite no chão. Abres a tua boca envolta de rugas e barba, a tua saliva é espessa, e o teu hálito é inevitavelmente matinal, sorves o leite com tanta pressa, fazes me ficar ansiosa, fazes me ficar nervosa.

Tremem-te as mãos. Estás atrasado para a apartação.

Não quero ir contigo, vamos embater contra qualquer verdade cruel e eu não sei se quero lutar contra a morte. Sinto-me cada vez mais inútil.

Tremem-te as mãos. Entregas-te às drogas. Ficamos aqui olhando o céu, até chover. Os cigarros que fumamos vão ficando molhados, e as chamas apagam-se. A terra à nossa volta transforma-se em lama.

Tu já te foste, partiste. O dia já passou e eu não vi nada, senão breu e trevas.

Vem buscar-me. Prefiro morrer contigo na pressa de ser fiel aos compromissos injustos do mundo, do que definhar na crueldade da indiferença.

Então pegas-me ao colo, como se eu voltasse a ser pequenina em teus braços, e como se tu voltasses a ser vigorosamente jovem. Eu escorro água, lágrimas e sangue. No meio de tanta dor, não me sinto.

Não sei o que aconteceu. Não sei onde estou. Não sei quem me leva. Não sei para onde me levam.

Dói-me o corpo, dói-me a cabeça, dói-me o coração. As minhas mãos estão fechadas. Caí e tu não me levantaste.

Esqueci-me que já não estás aqui. Só agora percebo que perdi o teu fim.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Friendly, friendly fight



Acordo sobre o teu peito gélido
Depois da queda,
Sorris-me como sempre
Honestamente.

Estou mais leve,
Isto sou eu e mais nada.
Despida de tudo.

Para quê alimentar feras famintas de guerra se só o que desejo é paz?

Já não tenho medo,
De mim, nem da morte
O instinto violento da noite
Revela segredos.

De repente sinto a tua mão na minha
A odisseia de luzes que nos persegue,
A quantidade de ruídos que os meus ouvidos
Já não conseguem distinguir.

Sinto nas tuas veias
Ardente o sangue
Ardente o veneno.

Olho-te nos olhos
E sorris-me como sempre
Honestamente.

Estou só, depois da queda,
Isto sou eu e mais nada,
À porta do Mundo.

Para quê alimentar feras famintas de mim, se o que quero és tu?

S.L.

domingo, 19 de setembro de 2010

Awake forever in a sweet unrest



Can death be sleep, when life is but a dream,
And scenes of bliss pass as a phantom by?
The transient pleasures as a vision seem,
And yet we think the greatest pain's to die.

J.K.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Mandrágora de Rúben

Aprendi, meu senhor, a ser o esfregão que lava o chão que pisa.
Aprendi, meu senhor, a ser o branco rancor das suas camisas, que leva sempre engomadas.
Aprendi, meu senhor, a ser o sal dos seus lençóis, quando de manhã parte e o calor do seu corpo sucumbe à arte do tempo.
Aprendi, meu senhor, a abandonar a sua beira, quando à mesa se senta para saborear o jantar.
Aprendi, meu senhor, a queimar a lenha que aquece a sua casa nas noites solitárias de Dezembro.
Aprendi, meu senhor, a remendar com minúcia os seus fatos, a engraxar os seus sapatos.
Aprendi, meu senhor, a ser em tudo sua, mas da sua boca não sai palavra de conforto, dos seus gestos graciosos não se formam carícias, nos meus seios não procura as delícias que lhe fariam viver os desejos esgotados na pele limpa da sua primeira mulher.
Aprendi, meu senhor, em tudo a ser fiel, em tudo a ser honesta, em tudo a amá-lo,
Mas aprendi que para si não há mais mulher senão Raquel.