segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Mandrágora de Rúben

Aprendi, meu senhor, a ser o esfregão que lava o chão que pisa.
Aprendi, meu senhor, a ser o branco rancor das suas camisas, que leva sempre engomadas.
Aprendi, meu senhor, a ser o sal dos seus lençóis, quando de manhã parte e o calor do seu corpo sucumbe à arte do tempo.
Aprendi, meu senhor, a abandonar a sua beira, quando à mesa se senta para saborear o jantar.
Aprendi, meu senhor, a queimar a lenha que aquece a sua casa nas noites solitárias de Dezembro.
Aprendi, meu senhor, a remendar com minúcia os seus fatos, a engraxar os seus sapatos.
Aprendi, meu senhor, a ser em tudo sua, mas da sua boca não sai palavra de conforto, dos seus gestos graciosos não se formam carícias, nos meus seios não procura as delícias que lhe fariam viver os desejos esgotados na pele limpa da sua primeira mulher.
Aprendi, meu senhor, em tudo a ser fiel, em tudo a ser honesta, em tudo a amá-lo,
Mas aprendi que para si não há mais mulher senão Raquel.

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