segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Je vois la vie en rouge.

“Saga, que saga

Quem paga as minhas dívidas?”

Pensava ele ouvindo Edith,

Cagando na sanita,

Riscando o jornal com os olhos.


A torneira da banheira deixava um rasto

De calcário amarelo na loiça branca.


Cheirava a podre,

Estava calor

E o suor da casa escorria pelas paredes de papel forradas.


Mais afastado deste quadro, num canto da cozinha suja

Passeava uma barata grande e gorda,

Dando um toque de beleza natural

Aquele quadro tão impecavelmente decadente.


“Edith, salva-me.” – Dizia ele para o espelho,

Preparando-se para fazer a barba.


À volta dos olhos as rugas,

As ramelas,

No canto da boca rude, um resto de saliva seca da noite.


“Aqui não cheira a rosas.” - Pensou.

E enquanto Edith cantava,

Facilmente com o fio da navalha

Se libertou um jacto fino de sangue.


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