quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Insónia




Alto, profundo, sedento
Sem medo
Quando me desci da carruagem,
Agarrou-me a cintura e roubou-me um beijo.
Depois pegou a minha mão
E levou-me pela estação fora
Falando, gabando-se da minha presença.
E eu sentia apenas o sonho,
A atmosfera demasiado irreal.
Corpo dourado tatuado de enigmas,
Sinto longe a sua força
E na absurda tentativa de tornar as coisas efectivas
Trago até mim de novo a insónia.
E ele desfaz-se nas minhas dúvidas e receios
Como o fumo do cigarro, que sei que leva,
Religiosamente, à boca.
Olho para o lado,
E na minha cama encharcada do suor erótico deste exorcismo,
Não está ninguém,
Apenas o meu corpo apedrejado.
Levanto-me, preciso saciar a minha boca,
Se aqui estivesses diria que a minha saliva se esgotara nos teus beijos,
E que a tua se gastara com tanto tocar a minha pele quente de desejo.
Quero dormir contigo.
Volto a deitar-me na cama, agora fria
Cansada por não poder foder-te,
Por me esgotar sozinha em mim.
Fecho os olhos,
Ele é como um leão,
Agarro lhe o cabelo e a sua boca percorre
O meu pescoço
As minhas orelhas,
O meu rosto,
Os meus seios,
E depois olha-me,
E deixo de existir, de pensar, de respirar.
Estes olhos são os meus e neles vejo-o,
Ainda que eu seja eu.
Depois fala comigo,
E a sua voz parece tocar-me,
Arrepia-me a pele.
Suavemente agarra as minhas costas,
As minhas coxas,
E num abraço digo-lhe que não quero ir,
Que posso confundir a minha existência na sua.
Ele ri-se e dá-me um outro beijo.
A sua língua entra e percorre a minha boca,
É uma língua doce e sábia,
E não atrapalha a minha.
Depois num instante, quase sem me aperceber como,
O orgasmo irrompe pela minha garganta.
Ofegantes.
Não quero acordar.
Quando a manhã me chama percebo a derrota utópica a que me dei.
Mas quero mais.

2 comentários:

Pedro Pinto disse...

tems de musicar este! não precisa de ser "uma música", pode ser poesia na mesma. pensa nisso!!

Coco Prado disse...

Já está musicado. Mas numa versão em inglês. eheh.