quinta-feira, 31 de maio de 2012

É tão fácil respirar quando não se conhece a solidão

Estas coisas que guardamos dentro de nós
Crescem como monstros.
Mas nós acarinhamo-las,
E não queremos que elas partam.
Estas coisas levam-nos para àguas profundas
E mesmo sem conseguirmos respirar,
Continuamos a afundar-nos,
Porque estes monstros são a única coisa que nos resta.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ausência Zero

Entre amigos fiquei
À espera do meu sangue
E ele nunca veio
Nunca correu.

Nem quando chegaste com o teu corpo de sempre
E o meu coração disparou
Numa tristeza que não conheço,
Que não é minha,
O meu sangue gelou
Não existia.

Branca pálida
Nem me conhecias
E fiquei o resto da noite revisitando
A tua ausência na minha cabeça.

E para là do fumo e dos gritos absurdos das gentes
Corri até ao carro para fugir dali
E nem a adrenalina do medo
Me fez passar este aperto cà dentro.

Não sei o que é
Que me faz temer assim
O amanhã sem ti.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Café de Ferro














Fui eu que bebi esse café
Que dancei nesse chão
Que saboreei essa espuma.

Fui eu que desapareci por entre a bruma
Que desapareci antes da chuva
Cair sobre os teus olhos.

Fui eu que sucumbi ao cansaço das multidões
Que decidi desistir das emoções
Das vibrações que transmite a ribalta
E já nem sinto falta
Do calor do palco.

Fui eu que cantei alto
A minha vida
E pisei no escuro os vidros que partiste.
Fui eu quem descobriste
No corpo de outra pessoa?

Fui eu e foi Lisboa que te incendiou a alma
E perdeste a calma
Dos heróis.

Fui eu que teci com o fio da desgraça a minha própria demência
Fui eu que com impaciência
Criei o fim do mundo.

Fui eu que cai fundo
Nos teus braços
E parece já não haver espaço
Para mais narração.

Fui eu que escrevi esta canção
Que não consegues digerir
Fui eu quem te fez sorrir
E agora só quero paz e perdão.

Sou eu que já não sou capaz
De ficar sendo outra
De ficar sendo isto
Que não existe
Que é triste
E cinzento
Que é violento e sem céu
Que é um infinito de vontades reprimidas
Que é um interminável mundo de mentiras
Que é algo que não sou
Algo que estou
Preparada para extinguir.

terça-feira, 13 de março de 2012

Março

Desceu da tua testa
Uma gota laranja
De liquido amniótico
Olhaste-me furioso
E eu sorria
Expectante
Provocando-te propositadamente.

Não foi preciso pensar
O ataque sortiu efeito imediato
E beijei-te.

Vamos
Saboreando as nectarinas
Fechando os olhos
Inspirando os odores
Enchendo os peitos de ar
Tocando as peles morenas.

Explodiste em mim
Contra mim
Sem frente nem verso
Sem forma
Todo divino
Todo etéreo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Revelação de Egisto

Saíram da tua boca pedaços perdidos de nada
E ardentemente me alcançaram a alma,
Quebrando em mim a muralha que criara.

Violentamente me precipitei na verdade:
"Aquilo que amo não posso ter."

Merda de incompetência.

Lanço em cima dos outros o meu fado,
Mas é de mim que não sai a magia
Que eu queria
Que saísse.

Ninguém me leva ao colo
E o zumbido que fica
É frio e fino como a navalha
Que me cravaste no pescoço.

E rodas e torces
Para jorrar mais sangue,
Para a morte ser mais breve do que era suposto.

Merda de mim.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A dEUS

Encontraram-se à porta da igreja
Perdidos no abismo dos seus corpos.
Sedento pelo perfume das donzelas
Ele escolheu o dela como engenho da sua mentira.
Se ela lhe diz que às vezes se esquece de quem ele é
Vão bater às portas das casas que habitaram juntos
E desfloraram sem noção das consequências,
E então ela relembra que ele foi a sua primeira batalha
A sua primeira vontade
De encontrar a liberdade.
Ele custou-lhe isso
Ele sofreu e ela não adivinhou.
Porque no meio do seu sorriso prudente
Estava um menino desarmado
Contente por a ter.
Desceram a rua, vaguearam em busca de leitos
De copos e cigarros
À procura de gente
Para cantar com eles
O que mais tarde se tornou hino.
Não se falam mais, em cartas talvez.
Na madrugada em que ela fugiu
No frio da manhã,
Percebeu que a mentira dele era o medo de ser feliz.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Fresco de peles rasgado
Na parede do teu olho pardo
Afixado com orgulho mesclado de gritos.

O sangue escorreu de noite
Pelos ventres das virgens secas
Anunciando a vinda de outras pragas
Surdas, cegas, mudas,
Arrepiantes.

Os homens saíram correndo
A procurar o fogo
Para queimar, para afugentar as bestas do mundo.

Nas casas as velhas carpindo
O susto tremendo que se havia erigido
Cortando as vestes de negro tingido
Bramiam os clamores das almas que haviam fugido.

As crianças derramaram o leite
No joio no chão
E dali nasceu a árvore da tentação
Soprando o vento e aclarando o sol
Raiando ao longe
Sem vontade de iluminar o céu.

Era manhã sangrenta
Banhada a nevoeiro e a carvão
E as cinzas pintavam todos os caminhos
Apagando as estradas, os ermos, os corpos
Que foram deixados curiosamente prostrados em circulo.

E em volta da vida surgiu destemida
Uma mulher branca,
Branca quase vazia
Que cantava gelidamente
O fim da tirania.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Galeria

Helena,
Porque atiraste as flores ao mar?
Porque te fizeste muda
Durante tantos séculos?

Roubar teu coração seria difícil.
Serena, não cantaste mais
Os encantos tais do teu amor.

Helena,
Eras esbelta e as tuas palavras
Incendiavam as salas
Onde pisavas com teus pés
O orgulho ferido dos homens que não podiam ter-te.

Vi-te um domingo
Sentada num banco
Cabisbaixa,
Olhando para o chão,
Imóvel, intacta
Quase estátua.
Chovia pesarosamente na tua cabeça
Farta de cabelos negros.

A chuva trespassava-te a alma
Gota a gota
Recordavas os teus pecados
Vezes e vezes sem conta
Passados a pente fino no teu pensamento.
Não falámos,
Fiquei mudo de paixão.

Onde estás tu agora?
Porque atiraste as flores ao mar,
E foste nadar nua de desejos?
Desejo ardente pela morte,
Que sem sorte nunca pôde colher-te.

És imortal Helena.
Não sais daqui.
Este mundo há-de engolir-te
E regurgitar-te em seguida,
E assim sucessivamente,
Neste ciclo sem fim.

Em tempos quiseste tudo,
Reluzias no mar alto,
Todos te desejavam,
Todos te admiravam,
E agora Helena?
Porque queres a bruma
E o frio da madrugada?
Porque queres ficar isolada
Nessa ilha de mágoa?
Porque atiraste as flores ao mar?
Porque foste encontrar em ti
O lado mais pesado
Desse olhar?

Vi-te num domingo,
Por entre as cordas de uma guitarra,
Gemendo,
Ao te encontrares
Entre o fio de uma navalha e o brilho do luar.
Não vês que és imortal?
Para sempre vais ser Helena.

Então, diz-me, porque atiraste tu as flores ao mar?



inspirado na "Helena Aquática" de Filho da Mãe.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mapas

Num dia que tenhas tempo
E partas comigo sem destino
Num dia em que o sol nos sopre na cara
E o vento nos ilumine.

Num dia em que todos estejam a dormir
Pela calma da tarde
E sob as estradas errantes
Se vejam ondas de calor.

Num dia em que o silêncio
Mais profundo seja o de nossos corações
E as respirações do mundo
Estejam guardadas bem fundo
Naquilo que levamos para recordar.

Num dia em que me dês a mão
Sem outro intento
Sem malas, sem bagagens
Ao sabor do vento,
Para nunca mais voltar.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Não sei mais falar das coisas
Que passam por dentro de mim,
Não sei mais descrever as nuvens
Aglomeradas no céu,
Ou as copas das árvores fugindo
Ao sabor da velocidade eufórica da partida.

Sinto o que não senti nunca,
E os meus olhos enchem-se de lágrimas,
Porque a verdade deixou-me a descoberto,
Porque a verdade revelou
Que eu sou tua.

Não sei mais escrever sobre mim,
Não tenho coragem de rebuscar no passado
Aquilo que quero sentir no futuro,
Porque o presente para mim és tu
És tudo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Esquecer


Se fosse verdade
A água nas janelas
As flores nas lapelas
A madrugada na tua rua
Branca e despida
De sentidos

Se fosse verdade
Nos teus abraços
A amizade sincera
A devoção amena
Que dás aos ventos

Se fosse verdade
A tua voz grave
No meu ouvido
O teu rosto sincero
Contra o meu

Se fosse verdade
O que vivemos
O que dizemos
O que ignoramos.

Se fosse verdade
A chuva que mata
O vento que me empurra
Para a ruína

Se fosse verdade
A minha mente
Esquecer-se de si
E deixar-se guiar
Pelo mar

Se fosse verdade
O passado apagava-se
Com um suspiro
Do coração

Se fosse verdade
Era eu
E mais ninguém
Era eu
Sem temer
Era eu
Forte e erguida
Sobre o astro
Da tua boca
E mais ninguém.

Se eu soubesse
Se eu quisesse
Se fosse verdade.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Infinity




I felt the blank orbiting around me

Like poison deleting me.


I’m nothing now,

A vacuum in white,

A whisper lost in time.


Everything inside me went away,

Floating through my eyes,

And my ears,

And my mouth.


Old tears and memories came along,

Old songs echoed.


I feel like I’m losing myself again in the light,

My body runs over my mind

And I try to reach reality one last time.

quarta-feira, 13 de abril de 2011


Sometimes we close our eyes and breathe the ancient winds. We paint our bodies blue, climb to mountains high, screaming the names of our heroes.

Sometimes we get our faces so close and without blinking our eyes we try to catch each other memories.

Sometimes we take ourselves to nowhere, embracing future as chaos rearranges our hearts.

sábado, 2 de abril de 2011

Ficar

Valha-te o corpo sedento
E a destreza do ser
Que és
E que dá o que dás.

Valha-nos a misericórdia sublime
Das horas que passam vagarosas
Do destino que insiste
Cuspir-nos na cara.

A tempestade aproxima-se
E tu estás só.

As linhas traçadas
No chão, na terra infértil
Tornam-se cada vez mais difíceis
De decifrar.

Quem te mandou pôr o pé
Na boca do inocente?

Quem te mandou calar com beijos
O frágil desejo
Ateando um fogo em tudo incontrolável?

Quem te mandou tapar com o silêncio
A verdade
Que mais tarde será descoberta?

A tempestade aproxima-se
E tu estás à deriva.

Valha-te a estrela que te guia
Bem ou mal
De noite e de dia
Até ao abismo insolente
Do amor.

Valha-te as mãos gastas
De carícias
Que teimam em te agarrar
Por enquanto...

Enquanto tudo é belo
Enquanto tudo é tremendo
Enquanto a tempestade
Não cai.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fidel



Tenho no sangue fervente
Uma mágoa
Pequenina
Cada vez que me assombras
De noite.

E levanto-me a meio do sono
Procurando água
E prados verdejantes
Para descansar o coração
De que estou a caminhar
Na direcção correcta.

As nuvens ao largo da cama
Quase tapam a luz da lua
E não consigo enxergar mais a tua face
Nem vibrar nos teus dedos singelos.


Com a tempestade
Caindo sobre as flores
E sobre as bestas
Dou por mim a fazer as malas
Querendo fugir de ti.

Não parecendo querer apagar-te
Pois a ti pertenço,
Vou-me entregar ao mar
Vou salgar os meus cabelos
E ficar por lá, longos anos
Agarrada ás areias queimadas
Pelo sol de outro amor.

terça-feira, 15 de março de 2011

O que ninguém faz por ti.

Sabes não sabes?
Diz-me lá...
Eu preciso saber se sabes aquilo que sinto.
Aquilo que sentimos todos, juntos.
Sem merdas,
Diz-me de uma vez por todas
As razões,
As confusões que te levaram a ser
Um verdadeiro cabrão.
Será que ainda és?
Porra, levanta-te do chão
Pára de escrever no asfalto
Que a tua dor não te deixa levantares-te
E caminhar para a liberdade.
Levanta-te, faz-te à vida,
Faz-te um homem.
Não fujas mais,
Fugir é a opção mais fácil,
O começar de novo
É a solução mais simples.
Enfrenta o monstro que é o teu passado
Enfrenta com palavras,
Enfrenta-te,
Em vez de continuares a rebolar
De vagina em vagina
De tormento em tormento
Achando que isso te livra
Do teu pecado violento.
As coisas não se esquecem
A vida não se apaga,
Está sempre lá
Para nos lembrar aquilo que somos no agora,
Aquilo em que nos tornámos,
Nos lapidámos.
Não vais esquecer,
Nem eu.
Mas não mais podemos viver agarrados
Ao podre odor que emanamos,
Ao putrefacto amor que exultamos
Em silêncio, na solidão dos nossos lençóis.
Eu sei que não tenho limites,
Que muitas vezes as minhas palavras
E os meus actos fizeram explodir em ti
Gestos egoístas, derrotistas, maldizentes,
Mas está já tudo tão longe,
Tão para lá do horizonte.
Deixa-me ir,
Não penses mais em mim
Na praia ao teu lado,
Dançando contigo na cozinha
Fazendo o jantar,
Nem nas minhas pernas,
Muito menos no meu rabo,
Já não te pertencem.
E muito menos a minha mente,
O meu coração
O meu sentir.
Por muito fraca que eu seja,
Por muitas desistências que faça ao longo do caminho
Não vou voltar para trás,
Não vou olhar sequer para trás,
Como já fiz vezes antes,
Onde tudo o que recebi
Foi uma foda no carro,
E um adeus a seguir
Cheio de sangue, suor e lágrimas
Mãos trementes
E ventre humilhado.
Não, tivemos tantas maneiras de nos fazermos felizes
Mas por orgulho ou por preconceito
Não baixámos as guardas.
Agora basta,
Deixa-me ir.
Não penses em mim.

quinta-feira, 10 de março de 2011

New Theory

Your choice was right
No chance to be there now
I swear I'm done
You'll want to leave your path
It's yours to find
It's all you've ever done
You're falling down
You'll falling down to us.

W.

quarta-feira, 9 de março de 2011

The spell of the drowsy drug.


Agarram-me os laços
As luzes néon inundam-me os olhos de lágrimas
O fumo dos cigarros perfuma o ar que eu sinto leve
Ao ritmo dos tambores deixo correr o meu sangue
Com movimentos graves sinto
Todos à minha volta
Num serpentear de invejas
De ódios
E eu sorrio no meio
Porque penso em ti.

Ele olha-me
Eu quero que ele me inunde a mente
Como tu fazes
Porque ele é quente,
Mas foge de mim
Nem sabe falar comigo
É distante
E não chega a tocar a tua essência.

Substitutos,
Não existem aqui
Tudo está viciado
Descontrolado
Jorram sangue nas ruas
Nas esquinas
Com as bocas cheias de espuma
A salivar de raiva
Jorram carícias
E infidelidades
Porque ninguém sabe amar.

Estão todos insatisfeitos,
E eu estou sedenta por te abraçar,
Por tocar a tua pele dourada
Beijar teus olhos azul cantábrico
Fazer-me tua,
E o tempo não chega,
As horas não passam,
A Primavera não vem.

Quero agarrar-me a mim
Não me deixar cair
Quero prender-me a ti
Não te deixar fugir
E muito menos deixar de sentir
Aqui dentro
A força do inatingível,
A força do inexplicável
Mundo novo que poderemos ser.

E se o tempo parar
Ao menos continuo aqui
No meio, dançando
Ao sabor da esperança
Desejando que num instante
O tempo avance
E te traga até mim.

sábado, 5 de março de 2011

Pertenço ao ciclo dos cegos
Não vejo o que me rodeia
Não te sei mais a cor.

Não vês o meu esforço em acreditar-te
E a minha mente viola
A tua nova arte.

Medes-te em palmos
Como nenhum outro homem se mediu.

Ficas no limiar
Da corrupção barata
Da insensatez volátil
Que me prende a alma.

Minuto sim minuto não
Vais-te perdendo na imensidão da minha memória
Quando a nossa história deveria ser interminável.

Basta,
Já chega de te chorar
Não hás de vir
Nem hás de voltar para mim.

Não foste passado
Nem futuro
Não chegaste a me encontrar.

Ficaste preso
Ficaste mudo
Não cantas mais o hino surdo
Do amor incondicional
Jogas ainda no meu corpo
O desafio morto e carnal.

Quero-te, porque não consigo querer mais nenhum outro
E esvazio-me de mágoas
Quando escrevo
Quando me solto do sufoco
Que é saber que és
Não de mim
Mas do mundo.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Hora In Veja




Não vou a lado nenhum
Não avanço
Nem por mim
Nem por nada
Sou pedra
Alma penada
Não tenho mãos que me agarrem
Não tenho lábios que me atinjam
Por mais que eu queira ser tocada
Nada me toca
No intimo.
Estou aqui
Sou evidente
Sou frágil
Corpo celeste
Que se entrega
Ao licor ardente
Das palavras
E vivo assim descontente
Sem saber o porquê
Demente
Sem saber quando
Vou dar o primeiro passo
Para chegar ao fim.