terça-feira, 30 de novembro de 2010

Watch her disappear

Last night I dreamed that I was dreaming of you

And from a window across the lawn I watched you undress
Wearing your sunset of purple tightly woven around your hair
That rose in strangled ebony curls
Moving in a yellow bedroom light
The air is wet with sound
The faraway yelping of a wounded dog
And the ground is drinking a slow faucet leak
Your house is so soft and fading as it soaks the black summer heat
A light goes on and the door opens
And a yellow cat runs out on the stream of hall light and into the yard

A wooden cherry scent is faintly breathing the air
I hear your champagne laugh
You wear two lavender orchids
One in your hair and one on your hip
A string of yellow carnival lights comes on with the dusk
Circling the lake with a slowly dipping halo
And I hear a banjo tango

And you dance into the shadow of a black poplar tree
And I watched you as you disappeared

T.W.

Carpideiras


Porque temos de ser nós sedentas de tudo?
Porque temos de ser nós embriagadas com silêncio?
Porque temos nós de encarar a vida como vocês querem?
Porque temos de ser nós a ceder?
Não encontramos abrigo nos rostos rudes dos desconhecidos,
Não encontramos palavras nos lábios que nos são tão queridos.
Palavras de conforto que não sejam senão breves quimeras
Dos tempos em que ainda brincávamos no colo dos nossos pais.
Porque temos de ser nós a percorrer o mundo?
Porque temos de ser nós a deixar tudo para trás?
Porque temos nós de trocar a nossa vida pelo prazer do vosso sorriso?
Porque temos de ser nós a dar?
Porque temos nós de abdicar do nosso ventre e da nossa carne para vos dar a vida eterna?

Dedicado a C.Leal.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Adeus, finalmente estou de partida para o nada.




Digo para mim
Como é errado aquilo que sinto
Ao ver-te seguir assim
Rude, descontente
A usares-me
A fazeres-me sentir impotente
E louco.
Fujo de ti quando desistes
E devia ter força para te agarrar
Para te cravar o meu nome nas costas,
Mas não, vou sozinho
Lavar a minha pele
E chorar
Rebuscando coisas que ficaram por resolver.
Não está certo sermos assim.
Tento lembrar-me do que correu mal no passado,
Para não o voltar a repetir,
Mas já não encontro nada
Já esqueci.
Porque amar-te,
Se isto é amar-te,
É como voltar ao zero
Voltar toda a existência
Ao contrário
Ser anestesiado
Sentir-me amnésico,
E no fundo saber que me vais deixar outra vez,
Mas acreditar em ti,
Sem te questionar
E sentir que isto já devia ter acabado
Mesmo antes de ter começado,
E mesmo assim querer estar contigo,
E saber-te no teu íntimo,
E aprender a amar-te,
Uma vez mais
E para sempre.

S.L.

Walking Around

Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.

Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.

Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.

P.N.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Não existem passagens


Vira do avesso o avesso que sou.
Há uma luz no canto do meu olho,
É um astro cadente que arde somente
Quando penso em ti.

Sopro e flutuamos
Na imensidão de números
E datas e refeitas alfabéticas que somos,
Inconstante fortuna que tento hipocritamente
Atribuir aos astros.

Não há nenhuma linha que nos dirija
Não há nenhuma música que nos cante
Ninguém parece exaltar-nos a cor,
Mas seguimos no extremos de nossas contradições,
Agarrados a horas e minutos espelhados.
Quanto mais rápido caminhamos
Menos tempo passamos aqui
Mais rápido é o fim.

Se mais Fevereiros houvesse
Seriam todos como tudo,
Seriam todos assim
A sonhar alto o recado que deixámos
Nas fotografias
Nos pratos
Nos rastos na areia
Na banheira
Nas línguas ensanguentadas
Nas unhas gastas
Nos cabelos caídos
Nos hematomas,
Enfim
Na nossa combinação binómica
Na tua chave estratégica
Na minha rua impedida
Para fechar as feridas
E escrever uma nova Poética.

S.L.

Antigonas




Na luz intermitente da rua
Elas seguem nauseabundas,
Nas suas formas:
Uma arredondada a outra obtusa.
Entre as peles macias e pálidas
O ódio nasce timidamente robusto.

Fortes feras
Que se inclinaram para a morte orgásmica,
Hoje caminham juntas.

Dos leitos que provaram,
Dos gritos que soltaram,
Resta agora o silêncio defunto dos corpos gastos.

Uma pára,
Sustendo-se na indecisão
Do vómito e da culpa.

A outra agarra-a,
Sem vontade,
Os seus lábios cheios de indiferença
Estão selados.

Não sai nada daquele corpo redondo e triste.

E a outra vomita o excesso de whisky,
O excesso de merda que engoliu
Porque não sabe fazer outra coisa.

Limpa-se ao casaco,
Está pronta.
Continuam.

Entram no nevoeiro e perdem-se
As mãos tentam encontrar-se.

Não há socorro aqui,
Não há luz, não há fado.

"Inês, estou cansada, vou voltar para trás."

domingo, 14 de novembro de 2010

The stillness is the move

Isn't life under the sun just a crazy dream?
Isn't life just a mirage of the world before the world?
Why am i here and not over there?
Where did time begin?
Where does space end?
Where do you and i begin?

After all that we've been through,
I know we'll make it after the wait,
The question is a truth.

D.P.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quanto

Fotografia de Ligia Santos.


Sobre o beijo pousei a minha boca,
Rouca não consegui mais falar-te.
Impressionei-te com as minhas coxas e as coisas que me disseste fizeram-me viajar.
Para onde?
Não sei, acho que me perdi entre o teu umbigo e o teu pescoço tatuado de sinais.
A vertigem a que nos propusemos sem pensar libertou-me do tempo,
A luz quente que me envolveu deixou-me nua,
Dentro de caricias fiquei, até que o laranja do teu palato cobriu a sala.
A tua saliva escorria na minha pele.
Pelos cabelos agarraste-me sem fôlego, e entre suspiros e sussurros mentimos aos nossos corpos.
Tocaste as minhas extremidades.
Mediste-me sem medo de ombro a ombro, de cavidade a cavidade, da cabeça ao coração, do coração ao ventre, do ventre à alma.
E quando sobre o beijo pousei a minha boca fiquei louca por ter de partir.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Lentidão



Uma mancha de mosquitos voou sobre ti, e as máquinas trabalhavam à tua volta.

Pedra sobre pedra, betão sobre betão, destruíram aquilo que conhecias.

Não restou nada.

E agora ergueram a masmorra a que um dia chamaste coração.


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

16:9

Molhei-me.

Pus as mãos no parapeito para ver melhor,

Inclinei me sobre o precipício da rua,

Via todos, lá em baixo, viver repentinos

E vi-te passar.

Alta, esguia, branca.

O teu casaco preto esvoaçava com o passar dos carros,

Trazias nas mãos as luvas.

Devorei o cigarro, e atirei-o com destreza para o meio da rua.

Entro então em transe,

Vou seguir-te.

Agarro a minha mochila e o meu cachecol,

Desço as escadas do teatro,

Quase deixo cair uma senhora idosa

Que vinha sorrateiramente subindo

Agarrada ao corrimão dourado.

Dou três pulos, vou a voar até ti.

Chego à rua.

Um monte de miúdos hiperactivos por ali espalhados

Impedem-me a passagem.

Por momentos, quase penso que te perdi,

Mas vejo-te atravessar a estrada,

Determinada em chegar à outra margem.

Estou viciado em ti,

Nesses teus cabelos de cobre,

E não te quero para nada.

Sigo-te, no entanto.

O teu cheiro antigo

Demasiado doce,

Demasiado quente,

Instiga-me a perseguir-te.

Presa, presa

Não nos meus braços

Não na minha boca

Não na minha mente.

És presa do meu instinto demente,

És musa.

E nisto sobes a rua.

E sabes que te sigo.

Páras, subitamente.

E eu paro.

"Não te quero para nada" digo.

Viras-te para mim,

Como uma corrente forte de água e lama

Frio e sujo, sinto-me no chão.

Estás a chorar,

E eu não estava à espera.

"Não me queres para nada?" – perguntas-me.

Anuí.

"Então sou eu que te persigo,

De costas voltadas para ti,

No meu caminho íngreme e ingénuo?"

Desarmado estou,

E na tua simplicidade aproximas-te

Lacrimosa,

Abraças-me.

E num momento, estou sozinho, no meio da rua,

E estou livre da tua loucura.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Nove


Porque a tarde me custa tanto

Sabendo que já não dormes

E mesmo assim, no silencio,

Escorres na minha mente

Que tenta adivinhar

O teu paradeiro.