Sem medo
Quando me desci da carruagem,
Agarrou-me a cintura e roubou-me um beijo.
Depois pegou a minha mão
E levou-me pela estação fora
Falando, gabando-se da minha presença.
E eu sentia apenas o sonho,
A atmosfera demasiado irreal.
Corpo dourado tatuado de enigmas,
Sinto longe a sua força
E na absurda tentativa de tornar as coisas efectivas
Trago até mim de novo a insónia.
E ele desfaz-se nas minhas dúvidas e receios
Como o fumo do cigarro, que sei que leva,
Religiosamente, à boca.
Olho para o lado,
E na minha cama encharcada do suor erótico deste exorcismo,
Não está ninguém,
Apenas o meu corpo apedrejado.
Levanto-me, preciso saciar a minha boca,
Se aqui estivesses diria que a minha saliva se esgotara nos teus beijos,
E que a tua se gastara com tanto tocar a minha pele quente de desejo.
Quero dormir contigo.
Volto a deitar-me na cama, agora fria
Cansada por não poder foder-te,
Por me esgotar sozinha em mim.
Fecho os olhos,
Ele é como um leão,
Agarro lhe o cabelo e a sua boca percorre
O meu pescoço
As minhas orelhas,
O meu rosto,
Os meus seios,
E depois olha-me,
E deixo de existir, de pensar, de respirar.
Estes olhos são os meus e neles vejo-o,
Ainda que eu seja eu.
Depois fala comigo,
E a sua voz parece tocar-me,
Arrepia-me a pele.
Suavemente agarra as minhas costas,
As minhas coxas,
E num abraço digo-lhe que não quero ir,
Que posso confundir a minha existência na sua.
Ele ri-se e dá-me um outro beijo.
A sua língua entra e percorre a minha boca,
É uma língua doce e sábia,
E não atrapalha a minha.
Depois num instante, quase sem me aperceber como,
O orgasmo irrompe pela minha garganta.
Ofegantes.
Não quero acordar.
Quando a manhã me chama percebo a derrota utópica a que me dei.
Mas quero mais.
2 comentários:
tems de musicar este! não precisa de ser "uma música", pode ser poesia na mesma. pensa nisso!!
Já está musicado. Mas numa versão em inglês. eheh.
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