Hoje ouvi o Chico
E lembrei-me de ti.
De como falávamos tão livremente,
Como partilhávamos o choro da tua guitarra
Com as nossas vozes adolescentes.
Da tua casa, dos teus cigarros devorados
Debaixo de uma chuva intensa de Novembro.
Lembrei-me do lugar que ocupaste ali,
Tão discretamente,
As coisas que me mostraste e ensinaste,
O teu riso amigável e a nossa cumplicidade
Crescida de tantas filosofias sóbrias, inocentes, belas.
Conheceste-me bem,
Viste quem eu era
E sabias o que eu ia ser,
Na tua ternura olhavas-me com medo,
Com o medo de eu me perder na força que trazia em mim.
Tu sabias que a minha inocência ia ser perdida
Daquela forma tão cruel,
E Gabriel, a vida passou por mim assim
Mas eu continuo menina,
E a vida passou por ti e tu ficaste velho e sábio.
Eu pergunto-me, nestes dias de Inverno, de chuva miúda e de solidão errante,
Se tudo teria sido diferente se eu tivesse guardado o meu coração e a minha boca
E não os tivesse mostrado tão prematuramente.
E o Chico cantava hoje, a sua Valsinha
E eu sonhava ainda o meu sonho
Sonho de menina, tal e qual aquele,
De que um dia Eu e o meu Amor acordaríamos o Mundo com o nosso Amar.
1 comentário:
Se me permites, gosto muito da linha de escrita que deixas correr por aqui no teu espaço.
Continuarei a vir cá de vez em quando.
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