Comi terra enquanto punhas o chapéu na cabeça e vestias o casaco.
O calor intenso do chão, o pó nos meus olhos, nas minhas mãos, não me deixava levantar.
Disseste: "Vai, sai daqui."
E sem pensar mais corri.
Nas minhas costas o peso, e a sensação de que irias disparar sobre mim. O medo era tanto, que não consegui olhar para trás e ver-te sumir.
Cambaleante, de pés nus, voltei para casa.
Acendi um cigarro.
Doía-me todo o corpo e puxei da cabeça uma mexa de cabelo que me arrancaras.
"Filho da puta." Pensava, sem conseguir entender porque te amava, segui.
E ao virar-me para o sol, ao ver a minha casa, a saia rasgada e o cigarro ainda aceso, desejei não estar ali.
"Porque não me mata ele, logo, já, de uma vez por todas?"
Não é questão plausível ou razoável para ti, saberes que entre estas duas pernas está também uma outra coisa, tão boa e tão melhor.
Mas tu não vês assim.
Envenenei-te com os meus beijos, mas tu não gostas de mim, nunca me quiseste bem, e a tua mão dura tem o dom de me fazer sentir alguém.
"Vá lá, mata-me." Pedi-te, mas como sempre fugiste e deixaste-me assim.
Pior que morta fiquei viva, e viver já me cansou, e viver já se gastou no que me fizeste sentir. Não digas que me amas. Não digas que é o fim.
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