sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Tálamo


Olho-te as lágrimas
Dói
E no vazio procuro
A vontade.
Essa falta-me
E preciso tanto dela para sobreviver.

Na noite só,
Enfrento o medo
De colapsar perante o mundo eterno
De nos esvaziar uma e outra vez
Até estarmos virados do avesso
Com as vísceras à mostra.

Sentir o frio cortar-me a lingua
Sentir o peso da despedida
Sentir te a partir
Sentir te só na neblina
A pensar em mim, em ti
No espectro em que nos tornámos.

Há silêncio
E o vazio que há em mim,
Esta destreza de aniquilar tudo o que é pulsante
Estão a deixar tudo deserto
Coberto de neve.

Ao largo do teu rosto escorre lentamente uma lágrima
Não a reconheço
Mas vejo-me dentro dela
E ela cai estilhaçando-se no chão.

Como se nada fosse
Os teus pés gélidos passeiam nas minhas pernas
E nem temos noção daquilo que criamos
Daquilo que metamorfoseamos com os nossos dois corpos em colisão.

Sempre foi tudo tão intrinseco
Tão natural
A tua carne na minha
E a pele que vestimos todos os dias
Desde que caí na verdade de te amar.

Não quero sair das águas dilacerantes
E turvas, anestesiantes
Quero ser embalada nelas
Desaparecer no nevoeiro
Afogar-me
Asfixiar-me
Perecer
Aqui ou no teu leito.

Ido

Não saio daqui
Nem por nada
Tenho medo dos outros
Dos olhares desajeitados dos bêbados
Dos gritos aguçados de antigas amizades.
Não saio daqui.
De perto da música quente
Do fumo incandescente da minha imaginação
De corpos dançantes
Que à minha frente vão rodopiando sem precisão.
Já fui daqui,
Agora não sou de ninguém.
Ninguém me quer,
Filha bastarda de uma poesia arrogante
Aconchegante apenas em dias mórbidos como este.
A chuva lá fora nem molha,
Purifica
No psicadelismo daquilo que não sei nomear.
Talvez seja só solidão, isto que vive por aqui
Isto que paira sobre estes filhos de Adão.
Não saio daqui
Tenho medo de mim.